13/06/2019, 13:06
Os desajustados também tem um coração
por André Cunha
Tiff (Zoe Levin) é uma dominatrix (profissional especializada em conduzir sessões de sadomasoquismo). Pete (Brendan Scannell) é um jovem comediante que tem fobia de subir no palco. Amigos de infância, Tiff e Pete protagonizam Amizade Dolorida (no original Bonding ou Ligação, União), série de humor negro dirigida por Rightor Doyle e produzida pelo Netflix. Parece diferentona? Espere até ouvir o resto.
Tiff estuda psicologia e discute altas teorias com um professor mala com toda a pinta de abusador. Os temas: máscaras, personas, complexos, taras, fetiches. Ela até cogita engatar num relacionamento, mas há um porém. Pelo fato de ser extremamente bonita, os homens só pensam numa coisa quando falam com ela: sexo. Isso a deixa com dois pés atrás antes de se envolver com qualquer pessoa.
A vida afetiva de Pete tampouco é uma coleção de sucessos, aliás pelo contrário. Um homossexual discreto, ele circula sem muito entusiasmo pela cena gay, em geral frequentada por homens promíscuos e extravagantes. Como se não bastasse, tem um vizinho esquisitão que acalenta uma tara bem específica: que enfiem coisas no seu ânus. De preferência dedos, pra sentir a conexão do toque. Objetos de plásticos são deveras impessoais, argumenta. Poderia Pete quebrar esse galho, por gentileza?
Sem grana numa cidade cara e supercompetitiva (Nova York), Pete vai trabalhar como ajudante/guarda-costas/faz-tudo de Tiff. Juntos frequentam ambientes moderninhos, realizam fetiches inconfessáveis e tentam lidar com os próprios problemas emocionais, que não são poucos.
Investigação bem humorada sobre a sexualidade dos millennials (os nascidos na iminência da virada do milênio), Amizade Dolorida é uma série leve e divertida. Sua principal virtude é tratar o sexo de forma escrachada, sem filtro e sem levantar bandeiras indentitárias. Pode sentar o dedo.
Vai fundo.
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