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30/10/2018, 15:13

Pelos, melhor mantê-los

por André Cunha

Premida pelas convenções sociais, insegura em relação ao próprio corpo, disposta a perder a virgindade a qualquer preço, louca pra dar, Ellie Kolstakis, vinte e um anos, personagem do romance Virgem, de Radhika Sanghani, publicado no Brasil pela Fábrica 231, o selo de entretenimento da editora Rocco, toma uma decisão: submeter-se à uma depilação cavada, tipo Holywood. “Está na moda e seu namorado vai adorar” garante a responsável pelo procedimento.

 

Depois de passar pela excruciante sessão de despelamento – “as terminações nervosas ali foram atacadas” – e finalmente perder o cabaço (pg. 218), Ellie reflete, num claro sinal de amadurecimento psicológico: “Estive tão preocupada com a expectativa masculina a respeito do visual da minha vagina que gastei horas (e cem libras) em lâminas, cremes depilatórios, depilações, aparadas e pinças. Eu até cortei meu clitóris ao tentar me raspar. Minha vagina tem pontos pretos de pelos encravados que são tão profundos, que não consigo tirar (…) E é por isso que decidi deixar pra lá.” Ellie está certa. Se a obsessão por vaginas despeladas é sintoma de uma sociedade infantilizada, que tende a representar mulheres como meninas, nada mais natural que a mulher madura se liberte da obsessão depilatória e ostente com destemor os seus pentelhos. Basta de arrancar os pelos “que estão fazendo o seu trabalho de evitar que a sujeira e o suor entrem (sim, é essa sua função anatômica)”, afinal eles existem por algum motivo.

 

Jornalista do Daily Telegraph, onde escreve sobre política, saúde e tendências, Sanghani já morou em Londres, no Chile e em Barcelona. Ellie, sua personagem, mantém, em parceria com uma amiga, um blog sobre vaginas, boquetes, masturbação e sexualidade. A Fábrica 231 é “um selo de entretenimento atento às principais tendências do nosso tempo.” Bem, não há dúvida que uma tendência foi captada.

 

Quanto às axilas… também não precisamos desconstruir TUDO, certo?

 

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