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26/01/2023, 21:00

Prefiro os Cachorros

– Lembrei tanto de vocês no findi…
– Foi, Helena? Por quê?
– A cadelinha do meu vizinho teve neném. Tão lindos! Tem um que é a cara do Fido.
– Ô, meu Fidinho… Saudades daquele gorducho!
– Pois é. Quase trouxe o bebê pra vocês.
– Nem, Helena! Tá doida!?
– Doida por um peludinho!
– Ué!? Adota ele, então!
– Quem dera! Mas, não dá. Ele ia ficar sozinho o dia todo. Tinha que ser aqui.
– Aqui, não, Helena! Dá muito trabalho.
– Pra mim, né, dona Zuleica!?
– Também. Quando você não está, sobra pra mim!
– Justo. Também aproveita sozinha a fofurice dele.
– Dá gasto, também, Helena. 
– Usa o cartão corporativo.
– Ôxi! Tenho, não. E, mesmo que tivesse, né? Seria gasto pessoal!
– Que que tem? O presidente usou.
– Ex-presidente, Helena! Não me tira a alegria de lembrar sempre que é ex!
– Então? Ele usou. Diz que tinha gasto com pet, comida, remédio…
– Ele nunca soube diferenciar o público do privado. Sempre aproveitou as facilidades dos cargos que ocupou para benefício próprio. Quando deputado, embolsava auxílios como moradia e combustível, além dos salários dos assessores.
– As rachadinhas. 
– Isso. Mas, o pior foi o uso de verba pública para bancar campanha. As tais motociatas eram inchadas por servidores públicos pagos com o nosso rico e suado dinheirinho.
– Jura!?
– Sim! Fora os saques em dinheiro feitos pelo Coronel Cid, que ninguém sabe para quê foram usados.
– Eita!
– Aliás, foi por causa disso que o Lula trocou o comandante do exército. Além dele ter peitado o Dino e a PM do DF no dia da baderna, não deixar prender ninguém na frente do QG, ainda não quis cancelar a promoção do ordenança do biroliro.
– Ah! Então foi isso? Achei que era só porque ele era bolsonarista.
– Bolsonarista quase todos são. O novo comandante é e é bom ficar de olho. Mas, pelo menos, se diz legalista. Fez um discurso bem enfático sobre o papel institucional das Forças Armadas.
– Tendi. Ah! E tu viu aquelas fotos horrorosas dos índios em pele e osso? Fiquei chocada! São venezuelanos, mesmo?
– Não, Helena! São sobreviventes de uma tentativa de extermínio. O EX presidente incentivou o garimpo nas terras Yanomami e tentava forçar os nativos a abrirem mão de sua cultura e, consequentemente, de seu território, em troca de ajuda do governo. Os garimpeiros são violentos, matam os índios, impedem a entrada de profissionais de saúde e assistência às aldeias e destroem a mata. Sem a caça, a pesca e a floresta, eles morrem de fome. E, ainda ficam sujeitos a doenças, muitas transmitidas pelos invasores.
– Mas, por que fazer uma maldade dessas?!
– Os militares sempre viram a população indígena como empecilho para o desenvolvimento do país. Eles quase dizimaram algumas etnias, na construção da Transamazônica. Ah! E eles também entendem que devem explorar as riquezas da floresta, custe o que custar. Se não fossem as cobranças internacionais, acho que nossos índios teriam o mesmo destino dos americanos, como o próprio capetão disse que devia ser.
– Credo, dona Zuleica! Como um cristão pode aceitar isso?
– Nem precisa ser cristão, Helena! Eu não canso de me decepcionar! Viu o que fizeram com aquela família aqui no DF? Por poder ou dinheiro são capazes de qualquer coisa.
– É…
– Às vezes, acho que a raça humana não deu muito certo, não, viu?
– Por isso prefiro os cachorros. Amanhã mesmo trago o Fido 2!
– Helena!