04/06/2022, 20:42
Projeto Boca no Trombone clama pela diversidade de gênero no sopro do instrumento
Denunciar. Gritar. Este é o significado da expressão popular “Bota a boca no trombone”. A frase representa o novo projeto contemporâneo cênico-musical Boca no Trombone. À frente da iniciativa está a trombonista e arte-educadora Lôsha Buah, que em sua trajetória de artista sofreu inúmeros casos de assédio moral por pessoas que consideram o trombone um instrumento masculino. Ainda, a diretora, produtora e atriz Alana Ferrigno que, em um dueto inédito com a trombonista, irá retratar vários casos de opressões sofridas por mulheres.
A produção inédita estará em cartaz nos dias 29 e 30 de junho, em sessões às 14h30 e às 16h30. Ainda no dia 1º de julho, no mesmo horário, sempre no Complexo Cultural de Samambaia (Complexo Cultural de Samambaia – Samambaia Sul). Não recomendado para menores de 12 anos. A produção conta com o patrocínio da Secretaria de Cultura e Economia Criativa do Distrito Federal por meio do Fundo de Apoio à Cultura (FAC-DF).
Apesar de aberta ao público, Boca no Trombone visa levar Escolas do Ensino Médio e EJA de Samambaia para o Complexo. Marcações em: producaobocanotrombone@gmail.com.
Em cena, a atriz (Alana) realizará performances junto à trombonista que irá fazer releituras de grandes mulheres da música que hoje se tornaram tema do Pas/UNB.
No repertório Meu Culpido é Gari (Marília Mendonça); Dona de Mim (Iza); Maria de Vila Matilde (Elza Soares); Zero (Liniker); Mulamba (Mulamba) estarão na “boca do trombone”.
“O projeto tem o intuito de inspirar a comunidade na busca por uma sociedade mais justa para que mais meninas e mulheres saibam que não estão sozinhas”, pontua a instrumentista Lôsha Buah.
Segundo Buah, a iniciativa nasceu do seu desejo, tanto como instrumentista há 14 anos como também educadora, de provocar uma reflexão urgente sobre a opressão contra o gênero feminino.
“É visível o aumento das taxas de intolerância no País. E a arte é a nossa ferramenta principal para discutir estas questões”, destaca.
Enquanto musicista LGBTQIA+ (assim como grande parte da equipe), a trombonista destaca, ainda, a visibilidade sua no mercado pelo fato de “ser mulher e não pelo potencial como instrumentista”. Lôsha já sofreu preconceito de tocar e dar destaque para bandas apenas pelo fato de ser mulher.
“Muitos colegas me buscavam para alcançar uma visibilidade para banda. No sentido de “”vamos colocar uma mulher nesse instrumento porque vai chamar a atenção”” e não pelo fato de gostarem do meu som. Isso eu ouvi muito no mercado da música, essa sexualização imposta”, coloca.
E, também por isto, e arte-educadora dedica-se a fomentar a cultura em ações que apoiem a diversidade de gênero, orientando-se por um caminho de respeito e igualdade.
Para a diretora e também atriz do espetáculo, Alana Ferrgino, a proposta é retratar por meio destas duas mulheres tão diferentes, porém com histórias comuns de opressão, o universo de várias mulheres.
“Acredito que temos a missão como artistas de promover por meio da nossa arte a evolução deste cenário ainda de medo, de invisibilidade das mulheres. Queremos trazer uma reflexão e uma identificação junto à plateia para que, aos poucos, cheguemos a um mundo mais justo, com mais equidade de gênero”, explica a diretora.
Visibilidade para elas –
Negras, brancas, trans, não-bináries, LGBTQIA+. Boca no Trombone irá representar por meio das divas da música Marília Mendonça. Iza, Elza Soares, Liniker e Mulamba um pouco de todas as mulheres que, de diferentes formas, foram silenciadas, mas colocaram “ a boca no trombone”. Estas mulheres são hoje obras do PAS/UNB, onde são discutidas questões de equidade de gênero, empoderamento feminino, dentre outros temas.
Além de abordarem estas mulheres em cena, o espetáculo pretende ainda envolver o público através da música e da linguagem audiovisual, através de imagens projetadas no cenário. A criação desse material será realizado pela Apt7 filmes que assina a direção de arte do projeto.
A Apt7 filmes conta com direção de Roberta Rangel que é diretora, atriz e roteirista Divide a direção de arte com Tiago Venusto que é sócio fundador da apt7 filmes, diretor, ator, LGBT.
Ops- A trombonista, que também assina a direção musical do projeto, desenvolverá os shows com o arranjador Rafael Ops, artista multidisciplinar. Ops será responsável pela criação de bases eletrônicas das músicas que serão incorporadas aos solos de trombone nas apresentações, mesclando um instrumento erudito com a música eletrônica nas reileturas criadas especialmente para o projeto, trazendo uma pegada jovem e contemporânea para o show.
Sobre Loshâ Buah
A instrumentista Lôsha Buah é trombonista há 14 anos, dividiu palco com artistas como Negra Li, Gerson King Combo, Jesuton e Ellen Oléria. Participou de eventos como Latinidades, Porão do Rock, aniversário de Brasília, tocando com diferentes artistas. Gravou o extinto programa global Som Brasil em 2011. Foi uma das primeiras mulheres a tocar o instrumento nas noites de Brasília, tocando diversos estilos. Sua paixão pela música a levou para salas de aula do ensino médio, espaço onde desenvolve diálogos potentes para a desconstrução de padrões preconceituosos. Lôsha tem formação em música pela Escola de Música de Brasília, estudou bacharelado em Trombone e é pós-graduada em música na Universidade de Brasília.