30/10/2018, 15:05
Punk da monotonia
por André Cunha
- Michiko Kakutani, do New York Times, o descreve como “um romance de ambição estonteante.” Procede?
- Deslumbrada. As 1043 páginas do tijolo contam uma história policial sem grandes surpresas: há um crime (o assassinato de uma jovem na noite de ano-novo), os suspeitos (amigos e amantes) e um detetive de sobrenome italiano. Embora tenha bons momentos – sacadas psicológicas aqui e ali e a reprodução de um zine que até-que-ficou-massa -, o livro se torna, por volta da página 300, cansativo. Por volta da 500, repetitivo. Depois da 700, de uma chatice estonteante. Dá pra ver que Hallberg não sabe como e quando parar.
- Dá pra pegar umas dicas culturais?
- Muito pouco. Um dos motivos que me levou a ler foi que falava sobre o rock dos anos 70, então em mais de mil páginas o cara devia dar uma mapeada na cena underground, umas sugestões pra gente procurar no youtube. A respeito da “cena musical” na época, ficamos sabendo que: 1) um carinha lá curtia David Bowie; 2) Horses, da Patti Smith, é um puta disco.
- Por que então o “oba-oba”?
- Marketing. Tijolão da Cia das Letras, tradução do Galindo – que aliás é um puta tradutor que podia ter gasto esse tempo em algo mais útil -, aspas da Kakutani, capa massa e nomes pretensiosos de capítulos como “LIVRO VI, Três tipos de desespero, p. 817 INTERLÚDIO – OS FOGUETEIROS, SEGUNDA PARTE, p. 855). Mas parece que o acordo editorial envolveu grana alta e aposto que Hallberg já está escrevendo um próximo livro.
- Algo mais conciso, talvez?
- Não se ele se inspirar nesse personagem: “Um livro como esse teria que alocar trinta e poucas páginas para cada hora da vida, o que dava coisa de 800 páginas por dia (…) Um livro com vinte e quatro milhões de páginas.” p. 987.