“Será que eles vão me ver e achar que eu sou burra? Porque eu sou uma pessoa normal, né? Ó, não ri. Eu digo normal no quesito suburbana” se exaspera a narradora do livro com um dos nomes mais estranhos dos últimos tempos: Meu Livro. Que eu escrevi. (sim, são dois pontos finais no título) narra a trajetória da alpinista social Duny, uma espécie de Magda (a personagem de Marisa Orth em Sai de Baixo) repaginada e com acesso a internet banda larga.

 

Obcecada por fama, celebridades, corpo perfeito e cantoras pop, Duny é uma personagem da série do Youtube Girls in the House, um besteirol nonsense produzido através de avatares do jogo The Sims e criado pelo carioca Raony Phillips (que também escreveu o livro). Intrigante, com um design atraente – uma boneca com um quadril ao estilo mulher-melancia na capa, editoração antenada com as referências digitais, nomes de capítulos engraçados mal traduzidos do inglês -, a edição lançada pela Intrínseca pode enganar os desavisados (de fato me enganou). O que parecia uma sátira moderninha revela-se uma versão literária daqueles programas sem graça do Multishow nos quais uma suburbana barraqueira fala um monte de palavrões e manda Deus e o mundo à merda e pra casa do caralho.

 

Depois de ler O Meu Livro. Que eu Escrevi. e ver alguns episódios de Girls in the House, fica claro que Raony até tem algumas boas ideias, mas o desfecho, a-hora-de-rir, a conclusão, o momento derrisório de cada piada é, via de regra, um expletivo ou um xingamento (nada que fuja muito do humor tipicamente carioca). Com uma carreira em ascensão – ao final livro ficamos sabendo que o autor é “comentarista da rede TNT para eventos como o Oscar, Grammy e Globo de Ouro, com entradas ao vivo no Facebook do canal” e foi palestrante da “RioMarket, espaço de negócios do Festival do Rio de Cinema” –, Raony Phillips não deixa de ser um reflexo do humor contemporâneo: um monte de referências a crushes, bitches, youtubers, celebrities, Beyonce, Taylor Swift e outras divas que quebram a internet. Pura bobagem.

 

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