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09/06/2022, 21:25

Rouanet ou Big Cachê?

– Helena? Fecha essa janela.
– Ah, dona Zuleica. Tô vendo a cena.
– E eu, ouvindo. Que música horrível!
– Tá valendo.
– Mas o que é que est… Ah!
– E então? Não tá?
– Pra quem gosta de bombadão…
– Eu gosto.
– Deixa Roberto saber disso.
– Uai, olhar não tira pedaço.
– Tá certa. Mas olha os bonitos lavando carro com a janela fechada. Essa música tá me enlouquecendo.
– Será que quando eu ficar velhinha, vou ficar chata assim?
– Helena!!
– Pronto! Fechei.
– Como é que conseguem!?
– Ah, dona Zuleica, a garotada gosta. É o que toca nas rádios. Nas festas…
– Eu sei. Mas, não sou obrigada a gostar, né?
– Se tu morasse numa cidade pequena, dessas que só tem uma rádio, era o jeito.
– Ah! Isso eu sei. Vi a entrevista da empresária da Anitta, dizendo que esses caras compram as rádios e não deixam tocar nada diferente.
– Sério?
– Sim! E ainda teve esse escândalo dos cachês milionário em cidadezinhas totalmente carentes de recurso.
– Eu vi! Será que tem roubalheira?
– Mesmo que não tenha, é um escárnio! Tem cidade que não tem saneamento básico, que não tem receita suficiente para se sustentar. Aquela cidade lá na Bahia em que a prefeita sonhava com o show do Teteretetetê ia gastar a verba que recebeu para reconstrução após as chuvas que arrasaram o estado no início do ano.
– Credo!
– E ainda tem o fato de sempre ter propaganda política pró governo nesses shows.
– Ah! Daí, não dá para falar muito, que já te vi postando o povo xingando o coiso lá, em show.
– Pelo menos não é manifestação política paga com dinheiro público.
– A lei Rouanet não é dinheiro público?
– Certamente, o show da Pablo Vitar ou da Daniela Mercury não teve isso. Mesmo antes do exterminador do futuro do Brasil assumir, o limite máximo de valor a ser repassado era 45 mil. Agora, baixou para três e eu duvido que um projeto desses artistas que se assumiram contra o governo passaria para a captação de recursos.
– Me explica esse troço? O povo mete o pau, mas nem sabe como funciona.
– A lei Rouanet foi criada para incentivar a cultura, ajudar o pequeno artista a desenvolver um projeto, que tem que ser aprovado pela secretaria da cultura. Depois, ele tem que sair atrás de empresas que se disponham a investir nele, abatendo o valor aplicado do imposto devido. Depois, tem uma série de controles, todo gasto tem que ser comprovado e ainda tem contrapartida dos artistas que precisam se apresentar em escolas ou instituições sociais.
– Que trabalheira!
– E eles chamavam de mamata! Pior! Hoje, só passa projeto que interessa ao governo. Querem usar para publicar até propaganda de arma.
– Agora é que é mamata. É má e mata!