29/04/2021, 10:08
Torcendo para Dar Certo
por Nena Medeiros
Semana passada, postei uma charge contra o governo em um grupo de WhatsApp e recebi, como resposta de um bolsonarista, o apelo para que se evitassem discussões políticas naquele espaço. No texto, ele dizia que não apoia totalmente o presidente, mas torce para que “dê certo”. Também pedia união, já que compartilhávamos a angústia por um amigo, internado em estado grave devido a complicações da COVID.
Enquanto pensava em me desculpar, dizendo que a piada me parecera alinhada com o pensamento do grupo dados os posicionamentos manifestados desde a minha chegada, trouxeram a notícia de que nosso amigo perdera a batalha para a doença e o assunto ficou sem sentido.
Porém, o que pensar de quem ainda defende Bolsonaro com este argumento? Torcer para dar certo? Em quê? No autogolpe que ele insiste em ameaçar? Na saúde? Educação? Meio-ambiente? Economia? Como? Se para quase todas as áreas nomeou antiministros e até nas menores questões, é ele quem dá a palavra final com sua sabedoria de boteco, inspirada pela súcia de radicais olavistas que o elegeu?
Dar certo no reacionarismo de quem, como avaliou Pedro Dória, do canal Meio, quer levar o Brasil de volta à pujança do século XVII, subjugando ciência à bíblia, revoltando-se contra vacinas, resolvendo conflitos à bala e incentivando o extrativismo predatório e os costumes de então?
Não. Esse argumento caberia até meados de 2019, talvez. Eu mesma torci, embora duvidando, para que, de onde nada se esperava, pudesse sair algo de bom. Não saiu e não há torcida no mundo que resolva o fato dele ser um narcisista despreparado, cuja política homicida nos atinge a todos, todos os dias. A propósito, estudo da FGV com a Universidade de MIchigan, nos EUA, aponta intencionalidade do presidente na defesa do vírus, não em seu combate.
Torcer para dar certo, hoje, implica necessariamente, em torcer pela saída dele, o quanto antes.
Ainda assim, será tarde demais para suas quase 400 mil vítimas.
O nosso caro amigo, entre elas.