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19/03/2020, 18:19

Uso indiscriminado de álcool contra o coronavírus aumenta riscos de queimaduras

Com a recomendação do uso de álcool 70% para limpar superfícies e higienizar as mãos em razão da pandemia de coronavírus, acende-se um novo alerta: o risco de acidentes com queimaduras. Pensando nisso, a Sociedade Brasileira de Queimaduras (SBQ) tem buscado conscientizar a população sobre os cuidados no manuseio e estoque deste produto.

“É extremamente necessário redobrar o cuidado com a presença do álcool em casa, especialmente com crianças. Guardar em local que elas não acessem e não utilizar o álcool perto de chamas, como fogão e velas”, frisa o presidente da SBQ, José Adorno.

Diante da baixa nos estoques de álcool em gel, a Câmara dos Deputados aprovou a liberação da venda do álcool líquido 70% para o consumidor individual. A proposta segue para votação no Senado. Porém, há uma previsão de que a Anvisa publique uma nova portaria, estabelecendo a venda em embalagens de até 50 ml. Isso tornaria desnecessária a votação no Congresso.

 “O problema é que o álcool líquido se espalha com mais facilidade e toma grande extensão do corpo. As lesões, geralmente, são de segundo e terceiro graus. E quando atinge tórax e face, ainda tem o agravante de inalar a chama e os resíduos de tecido queimado, levando à lesão respiratória”, explica o vice-presidente da SBQ, Marcos Barreto, também chefe do Centro de Tratamento de Queimados do Hospital da Restauração de Recife. O índice de mortalidade por álcool líquido é bem maior que do álcool em gel.

Atualmente, por questão de segurança, a venda do álcool líquido 70%, altamente inflamável, é restrita a laboratórios, hospitais e empresas que precisam de algum tipo de esterilização. A comercialização foi restrita em 2002, considerando os riscos oferecidos à saúde pública, em razão dos acidentes por queimadura e ingestão, principalmente em crianças.

As diretorias regionais da Sociedade Brasileira de Queimadura têm se movimentado para solicitar que essa liberação não ocorra. Em carta enviada ao presidente da Frente Parlamentar em Defesa da Prevenção de Queimaduras, deputado distrital Roberto Lucena, o pedido é que o uso do álcool líquido para a população em geral não seja liberado. “Não há sentido ampliarmos o risco de acidentes de uma população reclusa, principalmente, crianças. Já temos uma expectativa de hospitais lotados, não precisamos amplia-la”, diz o pedido assinado pelos filiados.

USO DE ÁLCOOL – Para que o álcool tenha ação de combate ao vírus, é necessário que a sua concentração esteja entre 60% e 80%. Ele tem sido indicado para limpar superfícies e higienizar as mãos. Mas os médicos afirmam que o uso pessoal deve ser feito somente quando não há água e sabão. Por isso, a orientação é evitar o uso dentro de casa.

Outra preocupação da SBQ é com as diversas veiculações, em redes sociais, de pessoas ensinando a fazer misturas que venham a substituir o álcool em gel. Algumas delas, inclusive, usam álcool combustível. “Pedimos que, por favor, não usem a crendice popular neste caso, pois pode ser fatal. Já vi gente pedindo para misturar álcool com gel de cabelo. Não faz efeito algum”, alerta Marcos Barreto.

Ele faz a ressalva de que os riscos de uma queimadura são bem maiores que os efeitos provocados pelo coronavírus em crianças e pessoas sem comorbidades. “O álcool, seja ele em líquido ou em gel, é um perigo para crianças em casa. Por isso, pedimos que os pais redobrem a atenção com elas nesse período de isolamento social”, reforça José Adorno.

Além disso, aumentar o número de pacientes com queimaduras nos hospitais neste momento de contingenciamento do atendimento às pessoas diagnosticadas com coronavírus, vai na contramão da necessidade premente. “E tem mais: se um paciente queimado contrai o coronavírus, o tratamento torna-se ainda mais difícil”, alerta Marcos Barreto.