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03/09/2020, 15:49

Vamos falar sobre representatividade?

Muita gente já ouviu falar em representatividade, certo? Esse é um conceito importante quando falamos de minorias políticas, que nem sempre são numericamente minoritárias. Pessoas negras (pretas e pardas) são maioria em relação às pessoas brancas no Brasil, por exemplo, mas ocupam menos cargos políticos ou de chefia empresarial. Vejam em números: segundo o IBGE, pelo menos 55,8% da população brasileira se constitui por pessoas que se autodeclaram pretas ou pardas, no entanto, somente 17,8% dos parlamentares do Congresso Nacional se declaram pretos ou pardos, segundo dados do próprio legislativo federal.

Até mesmo na mídia e nas artes, pessoas negras são sempre postas em segundo plano. Quantas novelas com protagonistas negras ou negros existem no Brasil, por exemplo? E além da Majú Coutinho, âncora do Jornal Hoje, quantas outras mulheres negras apresentam programas na TV aberta?

Por tudo isso, a representatividade identitária, aquela em que sujeitos que de fato compõem um ou mais grupos sociais oprimidos podem falar por esse(s) grupo(s), é tão importante. Ninguém quer depender só de aliados comprometidos com os direitos humanos, por mais que eles sejam fundamentais. A gente quer falar por nós mesmos, queremos participar dos espaços em que, hoje, só as pessoas privilegiadas participam, para que as decisões possam ser tomadas por nós também.

            O que não se pode deixar de notar, no entanto, é que cada vez mais os inimigos dos direitos humanos estão se utilizando de pessoas oprimidas como fantoches, para que, assim, possam dizer que não são preconceituosas. Vejam o caso do presidente Bolsonaro, por exemplo, que usa um homem negro para reproduzir o racismo na Fundação Palmares, que deveria lutar contra essa forma opressão. Esse fenômeno, de usar um oprimido alienado contra o próprio grupo que ele faz parte é o que nós, ativistas de direitos humanos, chamamos “token”.

            Para evitar a utilização de “tokens” por parte dos opressores, precisamos valorizar, então, a representatividade societária. Este tipo não diz respeito a quem fala, mas ao quê se fala, a qual projeto é defendido pela pessoa que fala. Afinal, não nos interessa figuras como Douglas Garcia, jovem negro, gay e de origem periférica, que se elegeu à Assembleia Legislativa de São Paulo para disseminar o fascismo, o ódio e o preconceito.

 

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