17/02/2019, 22:32
HQs brasileiras ganham visibilidade e prêmios no exterior
Enquanto super-heróis estrangeiros seguem como as principais histórias em quadrinhos consumidas no Brasil, a trajetória de personalidades como Zumbi dos Palmares e Anita Garibaldi vêm rendendo prêmios e notoriedade a quadrinistas brasileiros no exterior. No mais recente capítulo dessa saga, Carolina, de João Pinheiro e Sirlene Barbosa, foi premiado no mês passado durante o Festival de Quadrinhos de Angoulême, o principal evento dedicado às HQs na Europa.
“O prêmio foi uma grande surpresa para nós, porque não houve uma inscrição. Nossa obra foi traduzida, lançada na França, foi lida e indicada ao prêmio”, diz Sirlene, que é professora da rede pública municipal de São Paulo e se juntou ao marido, o quadrinista João Pinheiro, para contar a biografia de Carolina Maria de Jesus, uma das principais escritoras do Brasil.
A motivação da professora era levar aos seus alunos e a tantos outros estudantes brasileiros a referência da escritora negra que fez em Quarto de Despejo uma denúncia social sobre as condições de vida nas favelas brasileiras. “Queria mostrar para esses estudantes, muitos negros e da periferia, que eles são descendentes de gente que foi sequestrada e escravizada em nosso país, gente que escreveu como Carolina, Lima Barreto e Machado de Assis. Gente que inventou, descobriu e teve importância como os brancos”.
Após três anos de pesquisa e desenhos, o livro foi publicado no Brasil pela editora Veneta em 2016 e despertou o interesse da editora francesa Çà et Là. Em francês, Carolina foi selecionado pelo júri ecumênico do Festival de Angoulême e premiado em 24 de janeiro deste ano. O corpo de jurados da premiação reúne especialistas da área, artistas e representantes católicos e protestantes.
O Brasil já havia marcado presença em Angoulême três anos antes, quando Marcello Quintanilha foi premiado por Tungstênio como a melhor HQ Policial. A história do livro foi adaptada para o cinema, e Quintanilha é considerado hoje um dos principais quadrinistas brasileiros em atividade no exterior.
“Oscar dos Quadrinhos”
A internacionalização de Tungstênio e outras obras nacionais recebe apoio da Fundação Biblioteca Nacional (FBN) desde 2012. Com um edital específico para editoras estrangeiras interessadas em publicar histórias em quadrinhos de brasileiros, a FBN já ajudou a chegada dos livros a 14 editoras de nove países. O apoio é fundamental, na visão do quadrinista Marcelo D’Salete, e precisa ser ampliado: “Seria muito importante que projetos como esse tivessem ainda maior apoio e abarcassem ainda mais autores”.