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30/07/2020, 19:25

A solidão social da mulher trans e da travesti

por Lucci Laporta

Eu trabalho num lugar onde não há outra pessoa trans, além de mim. Na rua que eu moro não há outras moradoras trans. Fui a primeira a militar de forma organizada no meu partido e, até hoje, uma das únicas. Sou a única pessoa trans de uma família que não mantém relação comigo. Na UnB, quando me graduei, fui a única trans do meu curso. Talvez seja única a escrever uma coluna para um jornal em Brasília. E não, ser a única ou a primeira não é bom. Não é sinal de vitória pessoal, mas da derrota de toda uma sociedade. É sinal de que se vive uma solidão generalizada, uma solidão social. E a única forma de não vivenciar essa solidão de forma tão intensa, seria estar onde as minhas semelhantes estão: na prostituição, no subemprego, às margens da sociedade, porque é só ali que somos aceitas. Um preço caro, não é mesmo?

Junto a isso, tem a solidão afetiva. Ora, a compreensão geral que se tem de nossos corpos é a de que servem para o uso furtuito, casual. Só “pra usar e jogar fora”, numa linguagem mais direta. Não somos as pessoas que “servem pra casar” (ou para namorar, apresentar aos amigos e à família). É como se nossos sentimentos não tivessem valor ou, antes ainda, nem existissem. Sofremos uma total desumanização a partir de uma dinâmica que nos torna nada mais que objetos para pessoas cisgênero, que são aquelas que não são trans.

É por isso que a militância trans é tão importante: para que possamos conviver umas com as outras, sem sucumbir meramente ao que se impõe sobre nós. Para deixar de sermos seres exóticos, extraterrestres que não vivem no mesmo “mundo” que os demais. Para que não seja “estranho” ser atendida por uma pessoa trans no hospital, no restaurante, na escola, ou mesmo cruzar com alguma pela rua de dia. Para que nossa humanidade seja reconhecida. É por isso, também, que quando uma pessoa trans/travesti tem um emprego, uma família ou amigos, isso tem um valor gigantesco pra ela, que nem se compara ao que representa para uma pessoa cis. É quase um privilégio.

Então, contratem-nos. Se vocês se relacionam conosco, assumam-nos como suas amigas, suas namoradas, o que seja. Não ignorem nossas diferenças, mas também não nos tratem com desprezo. Somem-se a nós na luta contra a TRAfobia.

 

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