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17/09/2020, 08:05

O movimento é L, G, B, T, Q, I e ainda +

por Lucci Laporta

Termos como “homossexuais” e “gays” costumam ser usados para se referir a todas as especificidades que a sigla LGBTQI+ carrega. Falar em homossexual e em gay não é errado e, se for com respeito, sem querer diminuir quem carrega essa orientação sexual, não é ofensivo. Não são ofensivos, nem mesmo, termos como “bicha”, “viado” ou “poc”, quando usados entre nós, da comunidade LGBTQI+ e/ou entre pessoas muito íntimas nossas.

Charge do artista Ribs

Só que esses termos dizem respeito a uma única identidade, que tem como conceito “homens que sentem desejo afetivo/sexual somente por outros homens”. Então se você se percebe enquanto homem, e só sente desejo por outros homens, independente da genitália que você ou que eles tenham (porque homens trans gays existem), você é homossexual.

            Mas o movimento social não é Gay. O movimento é de todas aquelas letrinhas e mais outras ainda, que representam identidades de gênero ou sexualidades que não se adequam às expectativas machistas, misóginas, binaristas e cisnormativas do patriarcado. E isso precisa ser sempre lembrado porque, além das pessoas heterossexuais cisgêneras (as que não estão incluídas na sigla LGBTQI+) ficarem nos tratando todas como iguais, como se não tivéssemos particularidades entre nós, alguns gays se acostumaram com essa ideia de falar por nós todas e começaram a se esquecer de que a vida de um homem gay cisgênero é muito diferente da vida de uma travesti, por exemplo.

Ora, enquanto as reivindicações dos gays cis, brancos e de classe média eram as de poderem casar-se, adotarem crianças e denunciarem criminalmente quem os discrimina – pautas todas importantíssimas e garantidas pelo Judiciário -, as reivindicações de travestis e demais pessoas trans brasileiras ainda são sobre o básico. Por exemplo, é sobre o direito ao acesso e permanência na Educação básica, ao acesso trabalho formal, à Saúde, a utilizar banheiros públicos e ter nossos nomes respeitados.

            Então não, falar sobre homossexuais, gays, bichas, viados, e sobre a opressão que os acomete, a homofobia, não é falar sobre o conjunto da população LGBTQI+. Enquanto gays são homens, muitas nós somos mulheres ou mesmo pessoas não-binárias. Enquanto os gays que conseguem se projetar política e socialmente são cisgêneros, muitas de nós somos pessoas transgênero. Então basta de gays cis querendo falar por todas nós. É hora de dar espaço para as lésbicas, as travestis e demais pessoas trans, para as pessoas queer, intersexo, bissexuais, que sempre foram apagadas por uma suposta igualdade com os gays, que só serviu para que eles, quando brancos, fossem assimilados pela normatividade, enquanto nós, o restante da sigla, permanecemos às margens.

 

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